Cafh | A Segunda parte do Cerimonial Dourado

Publicado el 16/06/2025
|

Nas antigas ordens esotéricas, as provas iniciáticas que levariam à consagração de um Cavaleiro da Eternidade compunham o Cerimonial Dourado, que tinha duas partes. A primeira delas não se realizava no plano físico, pois se dava, efetivamente, nos mundos astrais. Eram as quatro provas da materialidade, correspondentes aos quatro elementos entendidos então como fundamentais para a constituição do mundo. São os princípios elementares que mantêm, impulsionam, governam e destroem a vida física: a paixão, ou a prova da terra; a incerteza, ou a prova do ar; o medo, ou a prova da água; e a separatividade, ou a prova do fogo.
Cumpridas as quatro provas da materialidade, o aspirante chegava às portas do Templo, onde se dão as três provas mentais que antecedem as místicas bodas com a divindade. Através delas, ele tomava profunda consciência dos chamados primários de sua natureza humana e da constante atenção que precisaria dar a elas para dar um sentido a sua existência que transcendesse a si mesmo. Um sentido de dominação não é como a derrota de um inimigo, mas como a constante batalha de quem abraça intimamente, profundamente, a sua própria vulnerabilidade que, de tão humana, só poderia levar à união com o divino.
A primeira prova mental é a da eleição, ou da dominação da paixão da carne. O Viandante bate à porta do Templo e a Mãe Divina, oculta em brancos véus, pergunta o que ele veio buscar ali. Ele responde que busca, nada menos que Ela. Três outras mulheres, de deslumbrante beleza, vestidas de vermelho, azul e amarelo, são apresentadas a ele. Elas o tentam pela última vez, cravando a dúvida em sua alma. Desafiam a Divina Mãe a se desvelar e se mostrar como verdadeiramente é. Caem os véus e a Ela se mostra em suas feições de dor, destruição e sofrimento. Uma vez desvelada, ela desafia o Viandante a escolher entre Ela e as outras três belas mulheres. Ele reitera seu anseio e se põe aos pés da Divina Mãe, o que é suficiente para que Ela recupere sua face de eterna juventude e beleza. E do Viandante nasce o Peregrino.
De repente, o Templo ficou em trevas tão densas e obscuras que são inimagináveis e levantou-se a negra pedra da Mãe. Na escuridão, somente se vê o corpo adormecido da Mãe em seu ataúde eterno. O Peregrino é novamente tentado. Agora, pela sede de domínio, a sede de poder. Oferecem-lhe o cálculo exato; a soberba ilimitada e indispensável para o triunfo; os caminhos mais seguros para destruir e fazer o ser humano dono do mundo; todas as nossas artes secretas que o tornem dono de todas as coisas do mundo. E uma vez ele rejeita essas ofertas e retira seu anseio pela Mãe Divina. As trevas se dissipam e o interior do Templo volta a se iluminar.
A última prova mental é a da sede de riquezas, não somente as materiais, mas também as do saber. A Mãe lhe mostrará todo o ouro escondido nas entranhas da Terra, todo o ouro da inteligência e do saber, e lhe dirá que tudo pode pertencer a ele, sem qualquer outro sacrifício. E, nesta derradeira oportunidade, o Peregrino reforça seu anseio pela Divina Mãe. Ele venceu as provas mentais e dá à luz ao Liberado, o IHS que representa o ser humano substancialmente unido em místicas bodas, à Divindade que lhe dá origem. No céu, que já se cobriu com o manto da noite, brilha o eterno símbolo do círculo e a cruz, que representa a perfeita infinitude da divindade imolada e o ser humano, por sua vez, feito um deus.