Cafh | A Primeira Parte do Cerimonial Dourado

Publicado el 05/05/2025
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A experiência íntima e profunda do divino, entendia como a mística, tem apresentado várias nuances ao longo da ancestralidade de nossa humanidade em construção. Desde a antiguidade egípcia, os sacerdotes marcavam este processo de maneira simbólica, fazendo o aspirante passar pelas quatro provas que correspondiam aos 4 elementos que davam forma à criação entendida até então. Assim também foi em Eleuses, uma região da Grécia, próxima à atual Atenas, onde as celebrações de seus antigos Mistérios, ligados ao culto de Deméter, reproduziam estas provas num processo marcado pelo silêncio. Não pelo segredo em si, mas pela grande dificuldade de explicá-las a quem não as houvesse experimentado. Até mesmo no cristianismo esses elementos simbólicos integraram cerimônias nas vestes e profissões religiosas. As antigas Ordens Esotéricas consideraram essas cerimônias como supérfluas. Pois acreditaram ser inútil repeti-las visivelmente, uma vez que apenas quem está preparado para elas pode participar, mas sempre nos mundos astrais. Essas provas associadas aos quatro elementos, terra, ar, água e fogo, integram a primeira parte do Cerimonial Dourado, e se referem às quatro provas que hão de ser superadas para o viandante chegar às portas do Templo, onde será consagrado Cavaleiro da Eternidade. As quatro provas estão simbolizadas pelos quatro Cavaleiros que custodiam a entrada nos planos superiores. São similares aos Cavaleiros do Apocalipse, ao espectro do umbral de Zanoni, às terríveis feras que custodiam a entrada da Edda Escandinava; numa palavra: são aqueles princípios elementares que mantêm, impulsionam, governam e destroem a vida física: a paixão, a incerteza, o medo e a separatividade. A primeira prova, a da terra, corresponde ao reavivamento das paixões. O aspirante quase se esqueceu delas. Às vezes, passam-se anos sem que deem sinais de vida. Mas um dia, de repente, saltam para fora e, desta vez, transformadas em feras terríveis. Este retorno das paixões ao ser, lei inevitável de consequências que a carne deve ao depósito material que a formou, parece adormecer os buscadores do caminho; como animaizinhos domésticos, os instintos fogem aos raios dos primeiros conhecimentos, dos primeiros vislumbres, das vitórias iniciais. Se já está acostumado aos planos astrais, o buscador deverá passar pelo grande e terrível pântano astral! O pé, inseguro, afunda a cada passo; monstros terríveis pululam ali, como se esperassem, ansiosos, para devorar o viandante. Mas se os Mestres deixam que ele chegue até ali é porque sabem que poderá cruzar incólume. O asco à materialidade em sua forma astral, sem véus, mata as paixões, uma a uma. Quando chega à margem oposta, jamais o instinto voltará a dominá-lo. A segunda prova é a do ar. Para chegar ao Templo há de subir as invisíveis escadas que conduzem a ele. O corpo do candidato há de habituar-se aqui à quarta dimensão. De repente, seu corpo, pavorosamente, adquire dimensões imensas e prontamente diminui, até dar-lhe a impressão de desaparecer. Além disso, as místicas escadas se apresentam em forma de cordas pendentes e sem pontos de apoio. A incerteza é espantosa; parece-lhe, continuamente, que desde ali, precipitar-se-á no abismo, ficando suspenso, até que compreende que ali não há vazio. À medida que sobe, desencadeia-se o furacão. O furacão é imagem da passagem de um estado astral a outro, superior. A terceira prova é a da água; a do temor. Antes de chegar ao Monte Sagrado deve cruzar o lago que o rodeia; ali, de nada vale nadar, pois o valor está no exercício de nadar. Quando a imponência do monte embarga a alma, o temor vence e o corpo astral sente que afunda numa água que não afoga, mas gela e paralisa todas as percepções. Mestres e Protetores invisíveis sempre acompanham os candidatos nestas provas, do contrário, dificilmente poderiam passá-las ainda os mais adiantados. O temor é o inimigo mortal do ser humano e até que não esteja plenamente vencido não se pode pensar em chegar muito longe. A quarta prova desta primeira parte do Cerimonial Dourado é a do fogo. Pense um instante em alguém que sonhou toda sua vida em alcançar um ideal e, chegando à véspera de alcançá-lo, só então compreende que, unicamente com a morte, irá realizá-lo definitivamente. O Templo está rodeado de chamas inextinguíveis. Por ali não passarão incólumes os Cavaleiros; somente “o Cavaleiro”. Inutilmente buscou para si a realização. A realização está além da personalidade. Todo conceito de separatividade será apagado se quiser passar por esse fogo que tudo destrói, tudo consome, menos o Espírito, a Unidade.