Cafh | A Máscara Sentimental

Publicado el 24/03/2024
|

Viver plenamente a vida implica revisar continuamente a própria maneira de viver. E isto implica também reconhecer a maneira como nos expressamos frente às diversas situações do nosso cotidiano.
Cada estímulo nos provoca uma reação. Assim, nós não nos expressamos por nós mesmos. São os nossos sentimentos nos expressam. Eles são nosso disfarce.
Este sistema de estímulos e reações é o que se entende como a Vestimenta Sentimental. Também podemos entende-lo que é nossa maneira de ser ou ainda que são nossas características pessoais, que estão constituídas tanto por aspectos herdados como pelas situações a que fomos expostos e experiencias que fomos acumulando ao longo da vida.
Especialmente quando nossas emoções são intensas, nós nos expressamos através de nossa “vestimenta sentimental”. E a chamamos vestimenta porque este conjunto de reações emotivas cobre quem somos, confunde a noção que temos de nós mesmos e torna-nos instáveis e imprevisíveis.
Nossas emoções se enlaçam tanto umas com as outras, e se estimulam tanto reciprocamente, que se manifestam sem que, habitualmente, nós as distingamos com clareza. Nossa identificação com estas emoções é tão espontânea que nem consideramos que poderíamos ser de outro modo, a tal ponto que nossa maneira de ser parece coerente para nós mesmos.
Não notamos as contradições, nem a instabilidade, nem a dor que tudo isso produz ao nosso redor. Não nos damos conta de quanto, nem como essa identificação com altos e baixos emocionais influi sobre nossa concepção de quem somos e sobre os afetos mais caros a nosso coração.
Na vida cotidiana, nossa identificação com a vestimenta sentimental faz com que nossas relações possam ser tumultuosas e mesmo imaturas. A vestimenta sentimental afeta o amor e o sentido de compromisso, porque frente a cada situação que vivemos, reagimos segundo um banco de dados que a interpreta, gerando respostas que afeta positiva ou negativamente o meio, e que nem sempre nos damos conta de que se trata apenas de minha maneira de sentir e responder.
Para expandir nossa consciência necessitamos tomar distância das emoções passageiras, necessitamos compreender nossos estados de ânimo, descobrir a origem de nossos sentimentos. Em outras palavras, necessitamos conhecer-nos. No entanto, ao identificar-nos com a vestimenta sentimental, o simples fato de dispor-nos a observá-la, é como morrer
Como poderíamos ousar renunciar, se não estivéssemos dispostos a ver frente a frente nossa vestimenta sentimental?
Como poderíamos expandir nossa consciência, se deixássemos que nossa mente fosse presa de estados de ânimo cambiantes e erráticos, se nossos afetos e compromissos vitais estivessem à mercê de emoções momentâneas de atração e repulsa?
O que seria de nossa possibilidade de estabelecer vínculos afetivos profundos e duradouros?
Que fidelidade a nossa vocação e a nossos votos seria a nossa, se dependesse de como nos sentimos?