Cafh | Meditação à vera (3/14): Os Dois Caminhos

Publicado el 18/03/2024
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Em um sentido mais geral, o tema de “Os Dois Caminhos” diz respeito a colocar a vocação de um lado e qualquer outro caminho do outro lado. Então, o que temos que reforçar neste tema é a eleição de nossa vocação. Qualquer coisa que nos desvie de nossa vocação nos faz aferrar-nos a ela, deixando claro que é isso que queremos seguir.
Porém, acontece que a cada instante temos dois ou mais caminhos e não nos enfocamos em nossa vocação. Ou seja, a cada instante necessitamos responder se o caminho que se abre à nossa frente está de acordo com o que escolhemos. Portanto, não é apenas uma questão de olhar para um caminho de luz e outro de sombras, mas sim para um caminho em que nos aparecem todas as luzes, tendo que discernir qual delas é a que nos leva para onde queremos ir; e qual é, entre elas, a que está me desviando. Isso quer dizer que temos que fazer esta escolha a cada instante, buscando discernir o que faremos, como o faremos e porque o faremos; qual sentido tem; que relação teria com algo melhor que poderíamos fazer, de acordo com o que escolhemos fazer com nossa vida. Ou seja, somos convidados a discernimento instante a instante, no sentido de escolher o que vamos fazer e o tipo de ser quer queremos ser.
Muitas vezes vivemos um certo grau de frustação, sem nos dar conta do porquê, e isto pode ser uma consequência de um desacordo entre nossa escolha e a nossa atuação. Não se trata de haver feitos coisas estranhas, ou pecados ou coisas más. Mas sentimos que não fizemos bem as coisas, ou pelo menos não da melhor forma que poderíamos.
Não fazemos escolhas apenas nos momentos de prova. Por exemplo, imaginemos que, na vida, estamos dirigindo um carro e a vida é o caminho por onde o carro passa. Se o caminho for pavimentado, mas com a pavimentação em mal estado. Se pensamos estar bem neste caminho, podemos seguir direto sem olhar muito para ele e, consequentemente, acertar praticamente todos os buracos. Por outro lado, quem dirige bem, desvia de todos os buracos que consegue. Ou seja, de fato, não podemos tirar o olhar do caminho. E ainda que sejam buraquinhos pequenos, no final sentimos que não fizemos uma boa viagem. Até pode nos doer o corpo.
Então, essas pequenas frustrações não são por falta de vocação, mas sim, às vezes, por falta de discernimento de, a cada momento, poder fazer realmente o que seria melhor. Isso também não quer dizer que a gente deva ficar se censurando, a cada momento, se fizemos ou não o que era melhor, mas sim que nos mantenhamos alertas para saber o que estamos decidindo a cada momento.
Às vezes, surge-nos uma dúvida, porque também é algo que sempre nos perguntamos na meditação, que é o fato de que sendo Os Dois Caminhos, tendermos a fazer uma eleição. No entanto, a eleição é o efeito para quando trabalhamos o próximo tema, o Estandarte. Aí reside a confusão, pois o efeito de Os Dois Caminhos é o Desapego e ele está relacionado com o que devemos fazer quando identificamos a que estamos apegados, uma vez que pode ser algo que sempre fizemos, inclusivo que gostamos de fazê-lo. Pode até mesmo ser o apego a uma pessoa que precisa estar livre de nós. Os apegos podem ser relacionados com os maus hábitos de vida e com a grande eleição de minha vida.
Na realidade, o efeito desta meditação teria que ser a grande liberdade nas decisões. Não fazemos algo porque gostamos, ou porque nos caia bem, mas porque somos lives, a cada momento, para discernir fazer o que escolhemos fazer