Cafh | Luzes de uma Lua Nova

Publicado el 12/03/2024
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Na simbologia de Cafh, o ano tem um ciclo que está marcado por quatro cerimônias, da mesma maneira que se distinguem quatro estações e, em certa medida, coincidem com elas.
Entre essas cerimônias está o dia Vinte e oito da Lua de Fevereiro, que é o início do ciclo anual, com a reabertura do Livro da Mãe. Ou seja, o início das reuniões e quando recebemos a Missão Anual. É a época do trabalho, do esforço e do estudo.
Esta data corresponde à Lua Nova que ocorre 28 dias após a Lua Nova de Fevereiro, cerca de duas semanas antes do equinócio de primavera no hemisfério norte, correspondente ao equinócio de outono no hemisfério sul.
Talvez um dos hábitos mais ancestrais da nossa humanidade seja olhar para o céu. Principalmente o céu noturno, com uma variação tão grande de sinais, de estrelas, de faces da lua... E aí, nessa imensidão, tentar encontrar respostas e soluções para nossa própria existência.
Se hoje é fácil acomodar esse processo no âmbito das superstições e das crenças, é importante lembrar que numa determinada época era todo conhecimento que se tinha e era a única forma de explicar aquilo que se passava cotidianamente em nossas vidas.
Mas astros e sinais não foram os únicos eventos vindos dos céus. Os raios deixaram marcas de fogo sobre a Terra e, há cerca de 2 milhões de anos, nossos ancestrais, Homo erectus, aprenderam a controlar esse fogo gerado pelos raios, dando início ao que conhecemos hoje como humanidade.
O fogo não alterou apenas nossa alimentação. Ele moveu toda a Humanidade para hábitos mais sociais, ampliando o desenvolvimento da linguagem pelas necessidades de comunicação, permitindo a criação de grupamentos humanos mais sedentários.
O fogo foi o responsável pela fusão dos elementos e permitiu o desenvolvimento da metalurgia, arremessando a humanidade da idade da pedra para a idade dos metais que abriu as portas para o estabelecimento da agricultura.
Neste momento, houve numa identificação profunda com o elemento solar que igualmente aquecia a Terra e produzia o desgelo e o retorno à vida logo após o inverno. Isso gerou um vínculo entre o Sol, as entranhas da Terra e o fogo que ocupou um lugar sagrado, enquanto a humanidade percebia o ritmo que se marcava na natureza através das estações do ano.
Trazer esses eventos para momento atual, em que sabemos que não ocupamos mais um lugar no mundo plano e todos esses fenômenos foram inicialmente observados num ponto do Hemisfério Norte, poderíamos nos perguntar:
Diante de tanto avanço tecnológico, pessoal e coletivo, que sentido teria de rememorar algo que é tão ancestral, tão antigo na humanidade, que remonta ao período neolítico do desenvolvimento humano, há aproximadamente 20.000 anos, quando recém saíamos da última grande glaciação?
Evidentemente, não se trata de uma questão de luas, ou de sóis, ou de estrelas, mas do significado que isso assumiu para nós como humanidade. Claro que não temos mais o temor do sol não ressurgir, do inverno não se derreter, da Terra não se reaquecer e voltar a produzir o alimento que necessitamos. Mas é um momento que marca a celebração da vida.
Celebramos o tempo que já se cumpriu e deixamos ir.
Celebramos o tempo em que estamos e fazemos florescer.
Celebramos também o tempo que está por vir, abrindo-nos ao novo para realizar o que for necessário, no seu tempo e na sua previsão.
Unimo-nos a todos os que participaram desse processo de construção da humanidade, que já leva mais de 2 milhões de anos, e agradecemos pelos caminhos que não precisamos refazer.
É um momento em que se abre o grande livro da vida, o Livro da Mãe. Se isso, num momento, foi associado a uma deusa, hoje representa para nós a celebração do recomeço, da volta ao princípio, da abertura de uma nova fase, da experiência concreta do Sagrado na vida.