Cafh | Epílogos do Solstício de Inverno

Publicado el 25/11/2024
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Quatro bilhões e quinhentos milhões de anos! Este é o mínimo de tempo que tem custado à manifestação para expressar a vida como a conhecemos em nosso planeta! A vida com seu tempo, seu ritmo, seus passos e seus ciclos. Tanto tempo assim faz com que reverenciar a vida corresponda a reverenciar a própria manifestação.
Tantos bilhões de anos fazem com que lapsos de tempo menores se reduzam a frações de segundo, gerando contextos muito mais amplos que o de uma vida humana, mesmo que seja nela que se reconheça o que a supera, o que a transcende e o que a contém.
Há um pouco mais de 20.000 anos, a humanidade começou sua transição do nomadismo extrativista para os assentamentos agrários no hemisfério norte de nosso planeta. Isto significou uma progressiva liberação da busca de alimentos em ambientes silvestres, através da domesticação e cultivo de plantas e animais que pudessem alimentá-la. Assim se originaram a agricultura e a pecuária.
Porém, se o cultivo liberou a humanidade da dependência alimentar de recursos silvestres, a natureza continuou crucial para produzir o que alimentaria os seres humanos, e isto manteve esta humanidade atenta aos ciclos naturais da vida na Terra.
O primeiro evento contrastante se apresentava no equinócio de primavera, pois marcava o ressurgimento da vida no planeta com o desgelo após o inverno. Aqui se inicia a primeira parte do ano místico. É a abertura do Livro da Mãe ou Livro da Vida ou Livro da Manifestação.
A segunda parte do ano místico começava com solstício de verão. A partir dele, as flores e nascimentos amadurecem seus frutos, transformando-os em fontes de bem para a humanidade.
O equinócio de setembro traz os primeiros tons do outono e com eles, a terceira parte do ano místico. É o momento de celebrar a obra que se cumpriu dando frutos sobre a Terra. Presente e futuro se mesclam em eternidade pela constatação de que não há um princípio nem um fim para os ciclos da vida.
Se o outono foi um prelúdio de que estava por vir um tempo de recolhimento, é chegada a sua hora com o solstício de inverno, a quarta e última parte do ano místico. A Terra se esfriava e congelava a tal ponto, que chegava a colocar em risco a continuidade da própria vida. Se o Livro da Mãe se abria na primavera, este era o momento em que se entendia haver seu fechamento. E celebra-se a Renunciação.
A vida se desacelerava tanto em sua manifestação, que parecia não mais existir. Tudo que estava na periferia se retornava ao seu centro, onde estava toda a potência. É o período em que nos recolhemos interiormente, onde toda a atividade do ano cessa para que o aprendido se decante em nosso interior. Um pequeno ciclo que se fecha, simbolicamente como uma morte, para se lançar em novo ciclo de renascimento.
É esse o significado transcendente que impregna o solstício de inverno. E podemos levá-lo para qualquer outro momento, pois o que nos move é o sentido que ressona em nós, e o significado transcendentemente sagrado que escolhemos dar a ele.