Cafh | A Renúncia em Quatro Minutos

Publicado el 25/04/2025
|

Em um sentido geral, a ascética se refere ao método de trabalho para alcançar um objetivo determinado. No contexto de nosso conceito sobre a vida espiritual, chamamos ascética ao método que adotamos para expandir nosso estado de consciência.
Chamamos este método de Ascética da Renúncia. Em primeiro lugar, porque necessitamos renunciar à personalidade adquirida para poder transcendê-la; caso contrário, só poderíamos melhorá-la ou aumentar seu brilho. Além disso, dizemos que o trabalho de desenvolvimento é de
renúncia, porque está em concordância com o que a vida é, ao menos para nós, ainda que não nos mantenhamos conscientes de que renunciamos em cada um dos momentos de nossa vida.
Embora seja óbvio que nada na vida é permanente, nem sempre relacionamos esta condição com o fato de que a vida nos faz renunciar de forma também permanente. Os momentos de plenitude ou de felicidade são tão fugazes que, assim que queremos desfrutá-los, já se tornaram recordações, também fugazes.
Os bens que obtemos tampouco podem ser retidos de forma indefinida, e este fato produz em nós uma ambivalência. Por um lado, imaginamos que poderemos tê-los para sempre; por outro, nós os defendemos e protegemos com veemência porque sabemos que não será assim. E não só não podemos reter os bens que conseguimos, como ainda temos que esforçar-nos para recordar o que já vivemos; só retemos pequenos instantes que se destacam em um contínuo já passado.
O tempo, esse tecido de que está feita a vida e que nos parece eterno, só é nosso no instante presente. O vivido fica para trás por mais que queiramos retê-lo. E, no instante presente, o futuro se reduz a expectativas que poucas vezes se realizam como esperamos. No entanto, costumamos recusar-nos a reconhecer o óbvio de que só estamos de passagem pela
vida, e que esta passagem é um passo a passo, cada um deles tão pequeno que não conseguimos apreendê-los. Se nos atrevêssemos a olhar de frente nosso estado de contínua renúncia e nos animássemos a renunciar antes que o tempo nos despoje, alcançaríamos a liberdade interior necessária para continuar a expansão de nosso estado de consciência.
É disto que trata a Ascética da Renúncia. Através dela podemos desenvolver-nos tanto quanto desejamos e expandir nossa consciência em direção ao divino. Em termos espirituais tradicionais, dizemos que a Ascética da Renúncia nos conduz para a união de nossa consciência com a consciência cósmica. Ao longo do processo de expansão de nossa consciência, experimentamos diversos estados de união, de acordo com o contexto que abarcamos nela. De acordo com a tradição espiritual, chamamos de místicos a esses estados.
A Ascética da Renúncia abrange todas as áreas de nossa vida. Poderíamos entrar em mais detalhes sobre esta ascética se levássemos em conta que, de forma espontânea ou induzida, estamos acostumados a renunciar. Desde nossa infância aprendemos a renunciar à liberdade de
fazer, dizer ou descarregar nossos impulsos a nosso bel-prazer, para comportar-nos de acordo com nossa cultura. A prudência e as circunstâncias nos levam a renunciar a dar-nos todos os gostos.
Quando assumimos compromissos, renunciamos a liberdades que tínhamos antes de comprometer-nos. Na conduta corrente, algumas normas cujo cumprimento alguns de nós sentimos como renúncias, para outros, são tão somente hábitos saudáveis ou então questão de simples bom senso, como não buscar gratificação imediata e ajustar-nos a um orçamento.