Cafh | Meditação à vera (13/14): Dar sentido ao Ato de Meditar

Publicado el 31/05/2024
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E, por outra parte, o problema de não meditar mais pode não ser um problema ou uma dificuldade para aqueles cuja mente se mantém meditando. Porém, a maior parte de nós, e creio que a maior parte das pessoas no mundo temos a mente em qualquer outra coisa, menos em estado de meditação. Estamos atendendo ao que temos que fazer, ao que nos aconteceu, ao que possa nos acontecer, aos planos, e não se consegue sair nunca daí. Estamos enganchados num emaranhado de fios, como uma teia de aranha em que, uma vez capturados, não podemos sair daí. Estamos envoltos por isso. São como as substâncias adesivas nos fios, e tão logo a gente as toca, fica mais preso nos fios. E a mente é como um emaranhado de fios que não se pode desprender uns dos outros. É assim.
E não podemos nos soltar, porque também não podemos deixar de fazer o que temos que fazer. Nem podemos deixar dia se perder, o que vamos comer, onde vamos trabalhar, o que fazer com as crianças. Temos que fazer tudo isso. Porém a vida não é só isso. Fazemos tudo isso para poder nos manter vivos, e manter a vida genética da humanidade, para que haja outra geração. Mas nós não somos um mecanismo automático para que a natureza se mantenha ativa, e sim temos consciência.
Então, senão um momento, ou mais de um momento no dia em que saímos ou procuramos sair desse emaranhado, para, pelo menos, contemplar esse emaranhando, para nos desprender disso. Não há exercício que nos tire daí. Porque se o exercício de meditação for só mais uma das coisas que tenho que fazer, então ele faz parte do emaranhado. É só outra coisa a mais que Cafh me diz que eu faça; como ir a uma reunião. Tudo bem, eu vou a uma reunião, mas a reunião tem que estar fora do emaranhado. Tenho que me acalmar antes, tenho que sair do emaranhado. Não posso ir à reunião com esse emaranhado. Tenho que deixá-lo na porta, ou pelo menos tentar deixá-lo na porta, e me abrir um pouco, para ver como é a vida fora do emaranhado.
E falar da meditação é como falar de toda a nossa vida. Tem que chegar um momento em que a gente saiba o que fazer. Primeiro, ter a capacidade de criar um tempo vazio. Sem conteúdo. E não ter horror aos tempos vazios, e querer preenchê-los com distrações. Porque, em seguida, a gente tem que escapar. Não sabe o que fazer. O emaranhado lhe cai em cima. E quer pensar em outra coisa, porém não consegue pensar em outra coisa fora do emaranhado, que se mistura com a distração e se torna um outro problema. E, na realidade, viver com esse emaranhado é viver distraído, apesar de que às vezes isto nos deleita, viver distraído é postergar. Quando a gente diz "não me distraia", quer dizer "não me faça perder tempo". Quando a gente está distraído pelo emaranhado, o que está fazendo é perder o tempo que vitalmente necessita para encarar o emaranhado e expandir um pouco sua consciência.
Ainda que a gente não saiba como meditar, ou que não possa meditar, ou que não queira mais meditar. Pare! E saia do emaranhado. Porque até quando a gente tem dúvidas e está totalmente confuso, isso faz parte do emaranhado. Saia! A dúvida é um fio mais do mesmo! Porque, neste mundo, com tudo o que vemos, todos podem estar em dúvidas. Não há o que não se possa duvidar, ou possa dizer que outra coisa seja melhor. É parte do emaranhado, precisa sair, sair disso, poder sair, pelo menos querer sair. Porque, chegando a este ponto do que estou dizendo, há duas alternativas, e uma é "Não quero sair" e a outra é "Quero sair". Porque muitos de nós não quer sair do emaranhado, porque não quer criar problemas. para si mesmo.
Mas os que temos uma vocação de desenvolvimento temos que querer sair. Deixar as dúvidas para trás, deixar o entusiasmo para trás, deixar o arroubamento para trás, deixar as emoções para trás. Sair do emaranhado e ficarmos em paz. E ver se aí poderemos meditar.